domingo, 28 de março de 2010

estorvo

O toque frio caiu sobro o corpo fraco. A apatia cadavérica refletia naqueles olhos negros e tristes. O silêncio engolia a vida dentro daquela mortalha de angustia que cravava seus dentes amarelados na pele surrada dos que sofrem pela perda da motivação. O coração, com suas batidas lentas, ritmadas, seguia inabalável. Nenhuma reação, nenhum sentimento brotava dali. O mofo cobria as artérias, o lodo corria em suas veias. Os sinais do tempo estavam explícitos sobre seus ombros. Ficaram encravados como cicatrizes de chicotadas de um carrasco que, por puro sadismo, as infligiu. Surrado pela vida amarga que nunca quis, conduziu-se sempre olhando para baixo, temendo os castigos que os miseráveis recebem por tentarem sobreviver em meio à hostilidade. Abandonado pela vontade dos fortes entregou-se ao inverno negro dos esquecidos e calou-se... Nenhuma lamúria, nenhum sussurro. Chorou calado sob uma noite escura. Sentiu o gosto salgado de cada lágrima enquanto se recolhia ao seu cárcere pessoal. Caiu em seu abismo sem proferir nenhuma maldição ao mundo, jurou nunca o fazer. Ajoelhou-se diante da escuridão e entregou sua vida, desistiu de seu bem maior, desistiu... Entregou-se como sendo um estorvo ao carrasco de todas as eras, esperando ser tragado por suas areias para apodrecer e ser entregue ao vazio.

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