quarta-feira, 31 de março de 2010

a úlcera

Aniquilado pelos dias cinzentos, sem luz, sufocantes. As semanas se repetem. Tudo exatamente igual, tudo invariavelmente monótono e sem vida. Os vícios tornam-se os melhores companheiros nessa convivência apática. O tic-tac do relógio... Buzinas... Ronco de motores... Meu estômago que dói. A úlcera consome meu bem estar, me coloca de joelhos e a vomitar sangue. O café é amargo e extremamente hostil, más é vício, e pouco me importa as conseqüências. Sinto que por dentro apodreço lentamente. Às vezes penso sentir o odor fétido de minhas entranhas. Isso não me preocupa. Melhor começar apodrecer ainda em vida, pois assim já poupa um pouco o trabalho dos vermes e assim, talvez, este amontoado de matéria suja, sirva para alguma coisa na forma de húmus. Olho pela janela e vejo o pânico. O convívio se tornou caótico, o medo do visinho, do estranho, torna o fato de viver psicótico. As ruas parecem manicômios, com todos os medos e desconfianças. Acabo transformando todos em assassinos, criminosos. A máxima é: Não existe o companheiro, existe o aproveitador. Melhor se retrair, criar barreiras que impeçam um contato. Prefiro acender um cigarro e torná-lo meu único companheiro e afastar o menor sinal de aproximação estranha. Melhor alimentar minha úlcera, pois pelo menos terei certeza do que irá me matar.

Um comentário:

  1. a vida é mesmo uma roleta russa. e as úlceras nos apanham em vários momentos na vida. senão as reais, mas com certeza as metafóricas. adorei seus textos.

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