quinta-feira, 25 de março de 2010

cotidiano

A sarjeta, o esgoto que chamo mundo. A decomposição de uma vida amarga por gigantes de aço que regurgitam fumaça e borracha queimada, que sufocam, despedaçando aquilo, que antes era belo. Esmagado pelo poder que engole o cotidiano. A pressa, a intransigência. O mundo individual que cada um cultiva. As micro-conversas, os milésimos de palavras de amizades artificiais. O pesadelo da rua cinza e seu cheiro de bueiro aberto consumiram os sorrisos. Todos os rostos são, agora, amargos, infectados pelo vazio de esperança e desgastados pela artificialidade das relações. O descartável, agora, é regra máxima. Não procurar o duradouro e contentar-se com o provisório, com aquilo que logo se tornará gasto e esquecido na fumaça de combustível. O adiante são centímetros. O para sempre, este nem aos contos mais pertence. Insignificante, o fel ácido de um beijo pago, dos sentimentos negociáveis e sinceramente mentirosos. O viver se tornou incrivelmente egoísta, mesquinho, sádico. Entreter-se, sendo uma sanguessuga da existência. Entregar-se ao ócio, esperando que tudo seja tragado pelo abismo, onde tudo definha.

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