quarta-feira, 9 de março de 2011

mais um domingo

Zombarei, de hoje em diante, de todo o passado. Queimarei cartas e livros. Escutarei uma ultima valsa e, quem sabe, dançarei um ultimo jazz solitário. Hoje toca uma canção triste. O fogo que os pergaminhos alimenta não é suficiente para iluminar ou aquecer. Prefiro assim. Os domingos andam tristes. A Janela não tem sido aberta. Tenho odiado os sons das manhãs e de vizinhos com suas falsas conquistas e felicidade. Tenho ouvido uma canção triste. Uma canção húngara. Uma bela canção, mas mesmo assim, uma canção triste. Ouvi dizer que ela foi trilha sonora de uma serie de suicídios. Ouvi falar muita coisa. Mas gosto de ouvir esta canção. Mais um domingo. Maldita manhã. Minha cabeça não consegue processar estes sorrisos tão amarelos e sem vida. Tento tapar os ouvidos, mas os ruídos continuam ecoando, fazem as paredes vibrarem, então fico aprisionado numa prisão sonora. Malditos sorrisos falsos! Não vou deixar que eles me enganem mais uma vez! Quero ouvir minha canção maldita. Ela me acalma. Tenho acordado confuso estes dias. Já são tantos dias confusos que tem se tornado rotina as tonturas antes do café. Queria um analgésico forte agora, há três dias minha cabeça dói. Nem como o sono ela me abandona. Hoje é meu domingo maldito, com minha canção maldita, com sorrisos malditos cheios de dentes e em bocas sujas e asquerosas. Escuto alguém cantarolando alguma coisa do lado da minha janela. Fico curioso, mas não quero abrir minha janela e permitir um intruso visual em minha cela. Aqui é meu sarcófago, somente eu tenho o direito de respirar o ar saturado de seu interior. Somente eu e o mofo. Nada mais. Por que insistem em deixar meu domingo triste? Por que não me esquecem em meu mausoléu e desabam sobre suas vidas fingidas? Seria mais fácil se admitissem que estão sendo consumidos. Seria mais digno. Mas preferem fingir sorrisos. Eu estou farto disso. Causa-me asco. Para que sorrir? Não tenho gostado do som de sorrisos. Ando ouvindo uma canção triste por ser umas das poucas coisas que me tem feito bem. Ando queimando lembranças. Acho que deve ser isso que tem me deixado inquieto. Apagar o passado te livra de pecados. A consciência? Desculpe... esta me abandonou há tempos atrás! Quero ser um saco vazio de hoje em diante. Vou tentar preencher minhas lacunas somente com aquilo que gosto. Sei que vai ter um espaço grande para essa canção triste. Sei disso por que ela deve ter sido escrita por alguém como eu. Um alguém que devia odiar o som de sorrisos domingo pela manhã...

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