terça-feira, 25 de maio de 2010

glória

Vida atropelada, derrotada e fulminada pela condição de ser escravo. Ser vivente, mudo, apavorado por conseqüência de vivencias catastróficas. Por paixão, poremos fogo na ultima cidade e expulsaremos os indignos, converteremos a insanidade em desejo e nos afogaremos em nossa folia. Festejaremos o carnaval. O caminho foi coberto pelas cinzas do céu, que caiu em chamas durante o crepúsculo. Nosso festim de vontades e cobiças de encontrarmos nosso lugar de descanso é interminável, nos toma as forças, rouba suor, sangue e, aos poucos, a vida deixa de ser frágil, torna-se pedra, calos e ardor de esperança. O sacrifício nos põe de joelhos. A poeira trava na garganta, a chuva não cai. Os pés rachados pela caminhada sobre espinhos e escombros. Os olhos que nunca se abrem. O cheiro que nunca chega aos pulmões. O herói, esse não mais existe, foi destruído junto com suas farsas e dogmas. Nenhum anjo preanunciou o fim, nem abriu os portões do paraíso. O clarão ao horizonte trouxe a neve escura e a barriga vazia. A dor é perpetua no ar espesso. Ninguém se acostuma a sofrer, nem a sacrificar desejos por esperar por um mundo ameno. Mas na ultima vila, ainda reina a discórdia e o sofrimento. Os peões ainda caem para proteger lordes. Os murmúrios irrompem sobre os muros, chegam às cavernas e bunkers. O sutil deu lugar a profano e individual. O poder ainda corrompe e expulsa a razão e a dignidade. Tudo é odiado; amor, desejo, caricia; tudo deu lugar a instinto, sobreviver, ou abandonar a vida na terra decrépita. A paixão move a vontade de mudar, más nenhuma glória será dada aos que resistirem. Tudo é efêmero e passageiro. A vontade de mudar e de insurreição devem ser os motivos que nos unem a luta. Nenhum desejo, além desses, deve existir, ou ser alimentado. A igualdade, a conspiração contra o domínio. Vamos alimentar a chama. Colocar fogo no castelo e anunciar o novo amanhã. Sem donos, sem heróis... Apenas exemplos. Nenhuma imagem, ou busto, deve ser erguido. Arvores serão plantadas para dissolver a necessidade de imagens de perfeição, do líder. Deixe-se sangrar, regue a terra, semeie-a. Permita-se acordar depois frenesi da conquista. Anuncie a realização; destrua o desejo pelo objeto. Vamos anunciar a glória, ficando em silêncio em respeito aos que sacrificaram sua existência para derrubar a corte. E somente isso será lembrado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário